sexta-feira, 18 de julho de 2008

 
“Governo Serra também sob suspeita”

Alstom obtém mais um contrato milionário em meio ao surgimento de outros nomes envolvidos

17/07/2008
Eduardo Sales de Lima
da Redação
Enquanto as investigações internacionais desvelam a participação de ex-integrantes dos governos Mário Covas (1995-2001) e Orestes Quércia (1987 a 1990) no esquema de corrupção do caso Alstom, o governo paulista fecha um dos contratos mais rentáveis da história da empresa francesa no Brasil. De acordo com o presidente mundial da companhia, Patrick Kron, foi o maior projeto de sinalização já conquistado pela Alstom.
A transnacional irá fornecer ao Metrô de São Paulo o sistema de controle automatizado para as linhas 1, 2 e 3, que começará a ser entregue em 2010 por 280 milhões de euros (R$ 708 milhões). A empresa também anunciou que sua subsidiária, Alstom Hydro, fechou um acordo com a brasileira Bardella para fornecer equipamentos às hidrelétricas do rio Madeira. Cada uma das companhias terá 50% da nova empresa, chamada de Indústria Metalúrgica e Mecânica da Amazônia (Imma).
“É um escândalo em cima de outro escândalo”, protesta o deputado estadual Simão Pedro (PT-SP). Ele salienta que o governo está “ignorando” todo o processo investigativo, porque “assina um contrato milionário com essa empresa fingindo que não está acontecendo nada”.
De Quércia a Covas
O deputado estadual compara a leniência de Serra com a omissão de governos anteriores. Simão Pedro afirma que foi a partir do governo de Mário Covas que a Alstom passou a ter maior poder financeiro no Brasil, incorporando outras do mesmo ramo, como a Cegelec e a Mafersa. Mas avalia que, com a cumplicidade do atual governo paulista em relação a esse último contrato, além dos governos Covas e Alckmin, “o governo Serra também está sob suspeita”.
Coincidência? Um dos novos nomes que apareceram com o vazamento das investigações suíças está ligado diretamente ao PSDB; outro ao PMDB e mais um que não se sabe qual sua identificação. Eles são Robson Marinho, Cláudio Mendes e “Neves”. Documentos levantados pelo Ministério Público suíço mostram que Marinho, atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), coordenador da campanha eleitoral de Mário Covas em 1994 e chefe da Casa Civil do Governo do Estado de 1995 a 1997, viajou para a França em 1998 para assistir a dois jogos da Copa do Mundo com despesas pagas por empresas da Alstom, cujos contratos com a Eletropaulo e o Metrô ele avaliou depois, em 2001, na condição de conselheiro do TCE. “O Robson Marinho liberou os contratos (com a Alstom) que levariam cinco anos para ser avaliados em três, quatro meses”, conta Ivan Valente, deputado federal (Psol-SP).
Turma do Pedregulho
Outro nome que vazou da investigação dos suíços é o do sociólogo Cláudio Mendes, que atua na área de energia, com proximidade de um grupo ligado à Orestes Quércia (PMDB), denominado “turma do Pedregulho”. Ele é citado num memorando da Cegelec, empresa incorporada pela Alstom, em que aparece como "um intermediário do Governo de São Paulo", segundo o documento. No texto, executivos franceses discutem o pagamento de 7,5% para obter um contrato de R$ 110 milhões da Eletropaulo (atual AES-Eletropaulo) – a propina seria de R$ 8,25 milhões.
Mendes começou a circular pela Eletropaulo no governo de Orestes Quércia. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a partir do governo de Quércia, o sociólogo iniciou a função de intermediário entre empresas e governos, com participações nos governos Luiz Antônio Fleury Filho, Covas e Alckmin. A suposta propina paga para a Eletropaulo teria sido paga na administração de Covas.
A terceira pessoa, identificada como "Neves", consta em comunicado apreendido pela promotoria suíça. O nome aparece em comunicado enviado por Andre Botto, diretor da Cegelec na França, para uma pessoa de nome M. Chamussy. O manuscrito trata da extensão por 12 meses de contrato com a Empresa Paulista de Transmissão de Energia Elétrica (EPTE) para fornecimento de equipamentos às subestações de energia no bairro paulistano do Cambuci.
Ao lado do nome “Neves” aparece "8,5%", que os investigadores acreditam ser o percentual que essa pessoa teria recebido para fazer a intermediação. Não se sabe se “Neves” é um pseudônimo ou o sobrenome de algum funcionário administrativo de Covas.
Com o surgimento desses três novos elementos, a instauração de uma CPI no Congresso Nacional não está descartada, segundo Valente. Mas ele mesmo admite que ela será “difícil de sair”, sobretudo com resistência de “tucanos e peemedebistas”. “Essa questão pode levar a novidades a qualquer momento, que pode chegar até a candidatos”, conclui.
Quebra de sigilo
De acordo com o promotor Antônio Sílvio Marques, responsável pela investigação no nível estadual, está havendo intensa cooperação internacional, apesar dele não ter recebido a remessa de documentos suíços. “Mas está tudo sob controle e a cooperação internacional está havendo”, garante. A função de Sílvio Marques é verificar se houve prejuízos nas contas públicas do Estado. Sua ação abrange os contratos fechados entre a Alstom e várias estatais e ex-estatais, como o Metrô paulista e Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (Cteep). Em âmbito nacional, o Ministério Público Federal vai apurar possíveis crimes como lavagem de dinheiro e evasão de divisas. No entanto, as informações estão em sigilo.
Por isso, alguns deputados federais e estaduais, entre eles Valente e Simão Pedro, querem a quebra de sigilo das informações investigadas até o momento. “Isso não tem o menor sentido, porque enquanto os parlamentares não têm esses documentos, a imprensa têm. O próprio MP suíço vazou para o Wall Street Journal”, pondera Simão Pedro.
O Ministério da Justiça brasileiro requiriu às autoridades da Suíça o acesso aos documentos referentes à investigação das ações da Alstom no Brasil até a data da realização de uma audiência pública, marcada para 6 de agosto. Ela ocorrerá na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (Cdeic) da Câmara dos Deputados, com a presença do ministro Tarso Genro, representantes da Polícia Federal, dos ministérios públicos estadual e federal, além dos deputados que fazem parte da Comissão.
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia

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