terça-feira, 1 de julho de 2008

 
CASO ALSTOM E OS TUCANOS
Offshore foi aberta a pedido do grupo Alstom, diz francês
Courtadon ainda confirma ação do principal suspeito de negociar propina com tucanos, Claudio Mendes
Eduardo Reina

Engenheiro francês contratado em 1996 pela Alstom para fazer assistência técnica e comercial para viabilização de contrato com a Eletropaulo, Jean Pierre Courtadon confirma a ação do principal suspeito de negociação de propina entre a multinacional e o governo paulista, o empresário Claudio Luiz Petrechen Mendes. A Alstom é investigada no Brasil, na Suíça e França por suposto pagamento de propina para obter contratos com estatais em São Paulo e no País, negociados por Mendes.Courtadon relata que, durante a sua gestão em uma das empresas do grupo Alstom, a Cegelec, o empresário fazia propostas de assistência comercial, mas nunca teria prestado serviços. "Cheguei a conhecê-lo no período em que ocupava a função de executivo da Cegelec, até 1996, e estava propondo serviços de assistência comercial. Afirmo categoricamente que tanto nas minhas atividades na Cegelec, quanto nas minhas atividades de consultor, jamais solicitei qualquer serviço e fiz qualquer negócio com este senhor."O Ministério Público suíço aponta Courtadon como dono da Andros Management, offshore com conta em Genebra e sede nas Bahamas. A Andros recebeu, mostram os suíços, o equivalente a R$ 565 mil, ou 1,4 milhões de francos franceses, para pagamento de serviços de consultoria. O valor é compatível com o citado pelo engenheiro como seus honorários. "Meu contrato estipulava honorários de 0,6% sobre o valor do aditivo."Auditores que trabalharam para a comissão bancária federal suíça descobriram documentos que detalham envio ilegal de US$ 31 milhões pela Alstom. O dinheiro teria sido remetido a empresas fantasmas e contas em bancos na Suíça e em Liechtenstein. O destino seriam servidores públicos que negociaram com funcionários da multinacional no Brasil, na Venezuela, em Cingapura e na Indonésia.ANDROSCourtadon foi contratado pela Cegelec França no início de 1983, como vice-presidente comercial, onde ficou até maio de 1996. Quando deixou a empresa, recebeu pedido para apresentar uma estrutura jurídica terceirizada para acompanhar contratos no Brasil. "Portanto, foi criada em Genebra, a meu pedido, a empresa Andros Management", contou, ao insistir que sempre trabalhou com a Cegelec como empregado ou como consultor. "Lembro que a Cegelec foi incorporada pela Alstom em 1999, ou seja, três anos após a minha saída."Apesar de seu nome aparecer em documentos apreendidos pela Justiça suíça, mostrando suposto envolvimento no esquema de suborno, Courtadon nega qualquer relação com o pagamento de propina e com a "remuneração" para políticos do PSDB. "Infelizmente não pude ainda ter acesso a esses documentos, nem sei mesmo qual o conteúdo deles. Gostaria muito de ter acesso para entender como e por que meu nome aparece nesses documentos." Os papéis mostram que a multinacional pagaria propina no valor de 7,5% do contrato.Ele alega que efetivamente prestou serviços para a Cegelec. "Esse contrato de consultoria foi uma verdadeira prestação de serviço, pois eu tinha as capacidades técnicas como engenheiro formado em eletricidade e mecânica. E, além disso, tinha nesta época um bom conhecimento do aditivo 10. Durante os dois anos que durou a minha consultoria, organizei inúmeras reuniões com as diretorias técnicas, jurídica, suprimentos e financeira da Eletropaulo, visando a colocação em vigor deste aditivo."O aditivo 10 foi feito ao contrato Gisel, assinado entre a Cegelec e a Eletropaulo em 1983. O reajuste foi assinado em 1990 e custou cerca de 300 milhões de francos franceses, ou R$ 7 milhões, em valores atualizados.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20080701/not_imp198534,0.php

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